Nas últimas semanas você deve ter ouvido falar bastante de metaverso. Mark Zuckerberg anunciou a mudança do nome Facebook para Meta, gerando um rebuliço no mundo dos negócios e na mídia. Por trás do anúncio da marca – repetindo um movimento que o Google fez criando a Alphabet em 2015 – está uma estratégia para suavizar a crise de imagem enfrentada pela rede social, mas também uma visão bastante interessante sobre como Zuckerberg enxerga o mundo nos próximos anos. Vindo de alguém que foi responsável direto por várias das grandes transformações tecnológicas e comportamentais pelas quais passamos na última década, tornou-se obrigação entender melhor essa visão de metaverso e o impacto que ele terá nas nossas vidas e no jeito de fazer negócios.
Existem diversas definições para o que é metaverso, mas, em linhas gerais, a visão mais antiga é a de um mundo virtual que procura reproduzir a forma como vivemos no mundo físico. Quem tem mais de 30 anos vai lembrar do Second Life, fenômeno dos anos 2000, que atraiu milhões de usuários e uma série de empresas (havia lojas de grandes varejistas e até agências bancárias virtuais). Podemos especular que não vingou por uma questão de timing: as pessoas ainda não eram tão familiarizadas com o conceito de rede social e havia uma limitação de infraestrutura tecnológica.
De lá para cá, no entanto, o conceito de metaverso foi evoluindo junto com o próprio desenvolvimento da tecnologia. Gosto de pensar nesse metaverso como o espaço onde a vida digital de uma pessoa se encontra com o seu mundo físico. Um ambiente híbrido, em que a nossa identidade se funde na representação física (o corpo humano) e digital (que pode ser um perfil, um avatar, um personagem etc). Se você sabe ou ouviu falar em caça a Pokémons, Fortnite ou Roblox você já foi, de certa forma, apresentado a este universo.
Em uma pesquisa feita em julho de 2021 pela Wunderman Thompson Data, 76% dos entrevistados afirmam que suas atividades do dia a dia já dependem do uso constante de tecnologia. Mesmo os smartphones mais simples atuais tem uma capacidade de processamento equivalente a de notebooks. Assistimos ao amadurecimento de tecnologias como realidade aumentada e realidade virtual. Um relatório da consultoria PwC feito em 2020 prevê que quase 23,5 milhões de empregos em todo o mundo usarão realidade aumentada e realidade virtual até 2030 para treinamento de funcionários, reuniões e atendimento ao cliente. Fazendo coro com o Facebook, a Microsoft anunciou no início de novembro que sua suíte de ferramentas de escritório, o Teams, deverá ter em breve seu próprio metaverso para apresentações de Powerpoint e reuniões para analisar planilhas do Excel.
Do ponto de vista comportamental, o metaverso parece ser uma oportunidade de ajudar pessoas a se conectarem de forma profunda, tornando possível nossa existência para além de nossos corpos físicos e proporcionando o desenvolvimento virtual de amizades íntimas e relações amorosas. Já há jogos de interação com sensores corporais que simulam carinhos e até terapias digitais. Vemos também iniciativas voltadas para TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção) e para a manutenção da memória de idosos.
Quanto mais o metaverso evolui, mais os elementos emocionais do usuário se tornam os principais impulsionadores de engajamento, o que acaba por transformar também a maneira de se fazer negócios. Consumidores estão replicando hábitos físicos diários no universo virtual, apostando na propriedade digital, incentivando uma nova onda de produtos e aumentando o valor desses bens. A ascensão do NFT (sigla em inglês para Token Não fungível) mostra isso. NFTs são itens de valor único, que não podem ser substituídos, destruídos ou copiados e têm a autenticidade comprovada através de informações registradas na blockchain (mesma tecnologia usada em criptomoedas, como o Bitcoin). Um levantamento recente publicado pela Reuters estimou o mercado de NFTs em US$ 2,1 bilhões no primeiro semestre de 2021 contra apenas US$ 13,7 milhões no mesmo período do ano passado.
Em março deste ano, a obra de arte NFT intitulada “Everydays – The First 5000 Days”, do artista digital Mike Winkelmann, foi vendida por US$ 69 milhões. Em 2019, um vestido virtual foi vendido por US$ 9,5 mil pela The Fabricant, marca de alta costura digital com foco em mostrar ao mundo que a roupa não precisa ser física para existir. Grandes nomes como Ralph Lauren, Gucci e Nike também já lançaram produtos digitais e outros estão usando o metaverso para se promover e difundir, realizando eventos como desfiles de moda e lançamento de produtos no ambiente virtual.
A construção de mundos metaverso, imagino, por empresas como o Facebook (agora Meta) e a Microsoft, duas das empresas mais inovadoras do mundo, se dará com uma combinação de conhecimentos que passam por gestão, design, engenharia e antropologia. Foi exatamente com esses elementos que criamos o método design-driven da Kyvo, trazendo as experiências complementares dos nossos sócios e fundadores.
A Kyvo foi uma das empresas de inovação e design pioneiras a ter antropólogos e cientistas sociais. Acreditamos que pessoas de saberes distintos se tornam complementares ao criar novos métodos de pesquisa para as corporações entenderem e se relacionarem com seus clientes. Para nós, o primeiro passo para promover uma transformação inovadora é entender os fenômenos sociais onde os problemas dos nossos clientes estão inseridos para, assim, termos um olhar mais aprofundado de suas causas. Na sequência, projetamos soluções por meio de um ambiente cocriativo e, por fim, entregamos o que é importante para esse cliente e para o usuário. Ter uma equipe de repertório amplo de conhecimento é o que torna isso possível, já que trabalhamos dentro de ecossistemas e, dentro deles, lidamos com seres humanos. Assim como o metaverso, a Kyvo se propõe a experimentação através da observação do comportamento humano com o intuito de promover uma mudança inovadora.
Noto que muitas empresas sentem a necessidade de criar e usar personas por acreditarem que este método trará melhores resultados. Porém, o trabalho com personas, na verdade, não analisa profundamente a complexidade dos indivíduos e não leva em consideração todas as suas camadas e papéis e sim um recorte dele. O conceito da Kyvo sobre inovação passa necessariamente pela pesquisa de comportamento das pessoas em sua integralidade, inclusive ao observar as mudanças comportamentais que possam vir a acontecer ao longo do processo, assim como a forma com que essas pessoas são influenciadas pelos mundos físico e virtual numa mesma identidade. Por isso, o que temos feito com nossos clientes e parceiros, de certa forma são pedaços desse grande metaverso imaginado por Zuckerberg para os próximos anos.
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