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A maturidade do mercado de Corporate Venture

Um olhar sobre a evolução e transformação dessa prática e como se estabelece uma relação madura entre startups e corporações

Em meados de 2010, as corporações iniciaram seus investimentos em inovação aberta com startups por meio de patrocínio de programas promovidos por aceleradoras tradicionais. Como os programas tinham a troca de equity entre as startups e as aceleradoras, o método de trabalho tinha foco principal no crescimento do negócio da própria startup e menos no envolvimento do corpo de executivos da corporação.

Em 2016, a Kyvo criou um modelo de inovação aberta mais compartilhada, inspirado no modelo de aceleradora corporativa do Vale do Silício. A principal proposta é não ter a troca de equity entre as startups do programa e a corporação patrocinadora. O objetivo era atrair startups mais maduras e com foco distribuído entre os interesses comuns das duas partes. Deu certo. Já em 2017 a Visa do Brasil topou iniciar seu programa neste formato. As métricas de sucesso eram tanto o número de provas de conceito entre as partes, quanto os números de crescimento da startup. Para assegurar maior qualidade no desenvolvimento desses negócios, a Kyvo aportou sua metodologia de consultoria guiada pelo design como estrutura principal na condução do programa.

Paralelamente a esse movimento, vimos crescer o número de hubs de inovação – outro importante modelo de inovação aberta, no qual diversas empresas de segmentos diferentes e startups compartilham espaços comuns.  Assim, este se tornou um outro ponto de contato das corporações com potenciais startups, seja no contato de corredor, ou em eventos de networking, ou até em eventos específicos patrocinados, como Community Days, Speed Datings e Pitch Nights segmentados por vertical de negócio.

Recentemente, tem sido explorado o modelo de programas de inovação aberta mais objetivo e enxuto, por meio de campanhas ou desafios, com foco na busca de startups para serem fornecedoras de soluções. Para que funcione, é preciso que as startups sejam muito bem estruturadas e consigam rapidamente demonstrar, por meio de Projetos Pilotos, sua capacidade de corresponder à demanda da companhia. O risco aqui é quando a companhia cai na velha cultura do setor de Compras e Suprimentos de buscar sempre o mais rápido e barato, ocasionando um potencial risco de não se dedicar para que ocorra uma real inovação aberta.

Existe ainda uma clara tendência do mercado de criar também um canal de captação de startups aberto e contínuo. Empresas como Telefônica/Vivo, Raízen e TOTVS usam esse recurso. Contudo, ter um canal aberto não necessariamente facilita o relacionamento com startups. É preciso fazer uma boa gestão de todo o processo desde o ponto de entrada até o desenvolvimento de negócios. Foi natural, portanto, que algumas empresas redesenhassem seus processos internos para criar uma governança de inovação aberta / corporate venture e usufruir melhor deste formato.

Gestão e relacionamento com startups

Independentemente de todo esse movimento de automatização de funil – sobre quais startups podem ser identificadas como potenciais oportunidades para as corporações, o trabalho de desenvolvimento dessas oportunidades em negócios efetivos continua existindo. Afinal, uma vez que se começa o relacionamento colaborativo e criativo entre as partes, inicia-se imediatamente a complexidade comum ao ambiente inovativo: as divergências de entendimento e expectativas, as necessidades de articulação interna das áreas e unidades de negócio, o encontro de propostas de valor e disponibilidade para execução ágil e focada… neste ponto, a figura de mediadores e facilitadores é primordial, seja em bootcamps imersivos, sessões co-criativas distribuídas ao longo de um cronograma, comitês avaliativos e na articulação dos outcomes de reuniões entre executivos e empreendedores. Assim, o papel de facilitação deste processo se torna essencial na manutenção desse relacionamento.

No caso da Wayra, a aceleradora da Telefônica/Vivo, cada startup selecionada passa por um programa individual de 12 meses de mentorias por meio de quatro comitês (simulando um board do negócio): um de kick-off, dois de follow up e o último de fechamento. Os KPIs são combinados no começo e acompanhados ao longo do ano. Para servir como uma ponte da startup com a companhia e apoiar no desenvolvimento dos negócios, designam um profissional especializado em design como um mentor do processo. Acredito nesse apoio – de um profissional dedicado e com uma visão aprofundada na metodologia do design – como ponto-chave para a sustentação e melhor aproveitamento das interações dos participantes e para o sucesso de um programa de aceleração.

Vimos o mercado de corporate venturing se desenvolver e se diversificar bastante na última década. São muitos modelos e maneiras diferentes de ativar inovação considerando dois grandes e importantes universos – startups e corporações. O segredo do jogo agora é investir na gestão desse relacionamento. A tendência de maturidade de corporate venture com startups não é mais sobre novos modelos de aceleração, mas sobre novos modelos de relacionamento.

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*Lessak tem especializações em Human-Centered Design e Neurociências da Aprendizagem. É co-fundador e designer estrategista na Kyvo. Além de mediar um grupo de estudos independente sobre Neurociências & Criatividade, também está envolvido ativamente na liderança de iniciativas locais de fomento ao ecossistema de inovação (Service Design Network, World Creativity Day e Global Service Jam).

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