Foto: Salles, diretora da Ambev: é preciso fortalecer a autoestima das pessoas negras — por Ana Paula Paiva/Valor
Em 2022, a Kyvo lançou sua frente de inovação em ESG, sendo a diversidade um dos principais focos. O primeiro projeto nessa área foi fechado com a Ambev, o Dàgbá, e previu a aceleração de até 70 carreiras negras dentro da companhia. Nesta quinta-feira, dia 17 de novembro, o projeto foi tema de reportagem no Valor Econômico.
“Onze anos após o Dia da Consciência Negra ser oficialmente instituído no Brasil, a inclusão de pessoas negras avança a passos lentos – especialmente em cargos de liderança e gerenciais. Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em novembro, indica que pretos e pretos eram maioria (53,8%) dos trabalhadores do país em 2021, mas ainda assim ocupavam apenas 29,5% dos cargos gerenciais. Já os brancos eram 45,2% dos trabalhadores e 69% dos líderes.
Foi esse quadro de menor representatividade que a Ambev encontrou quando começou a analisar a inclusão de pessoas negras. Embora tenha 50% do total de funcionários negros, muitos deles estão na base, em funções operacionais. Desde 2020, após eventos como o movimento Vidas Negras Importam, a empresa começou a olhar de forma mais atenta para a inclusão em outros níveis – e viu que a jornada seria longa, diz Michele Salles, diretora de diversidade, equidade, inclusão e saúde mental da Ambev.”
“‘Um programa que de fato pense em como este profissional vive, contribui, se comunica, para que se sinta incluído e possa performar’, diz Salles. ‘A ideia é também fortalecer a autoestima e potência da pessoa negra’, afirma. Foram 70 pessoas selecionadas para a primeira edição. O programa, chamado de Dàgbá [palavra em iorubá para germinar ou crescer], trabalha questões como: se reconhecer como pessoa negra no contexto corporativo, competências e pontos fortes e imersão em temas de negócios, inovação, estratégia e design. Em cinco meses de programa, nove pessoas foram promovidas. No geral, os mais de 32 mil funcionários da empresa também vêm passando por treinamentos de letramento racial e de diversidade, inclusive no onboarding.”
Para o Dàgbá, levamos conceitos de antropologia, design e inovação para os participantes e também seus líderes. A nossa sócia Carol Zatorre, responsável pelo projeto, acrescenta que o propósito foi promover uma inovação organizacional com impacto no ecossistema onde ela reside, o que chamamos de inovação transformadora. “Por meio da antropologia trabalhamos o autorreconhecimento dos profissionais a partir da perspectiva étnico-racial, com assuntos sobre raça, colorismo e branquitude. Só então entramos na seara de liderança, pois uma das dimensões do Dàgbá é o desenvolvimento de uma liderança da qual demais profissionais negros possam estabeler algum tipo de projeção”, diz ela.
A íntegra da reportagem pode ser acessada através do botão.
“Nunca achei que seria gerente em uma multinacional”
“Mulher negra e nascida em Aracaju, Sergipe, Elayne Freitas conta que desde criança viu a mesma história se repetindo em sua família. ‘Todos chegavam em uma mesma idade em uma mesma condição financeira ruim’. Por esta e outras razões, nunca imaginou que um dia seria gerente em uma multinacional. Atualmente ocupando a posição de gerência da área de gente e gestão no centro de distribuição direta da Ambev, em Ilhéus (BA), ela repassa sua trajetória e indica o que foi fundamental para seu crescimento no mercado.”
“Em 2021, Freitas virou gerente e, neste ano, foi uma das 70 pessoas selecionadas para participar de um projeto de aceleração de carreira para pessoas negras na Ambev. ‘Foi a primeira vez que estava numa sala em que conseguia me identificar com todas as histórias’, diz. Ninguém ali havia feito universidade no exterior, por exemplo, e só uma tinha entrado como trainee da empresa.”“Um de seus maiores aprendizados foi também perceber o seu próprio potencial. ‘Vi que é preciso dar a sua cara, se mostrar e dizer o que está fazendo, dizer que a ideia é sua, que você faz parte dessa mudança'”.