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O fim da gambiarra tecnológica

Não é mais uma escolha a ser feita, nem mesmo é o caso de esperar a fila do planejamento de ações em TI andar; a transformação digital está acontecendo agora, em ritmo acelerado. Nesse contexto de pandemia, em que nos foi imposto o isolamento social em nossas casas, não é mais possível fugir da digitalização. As quarentenas nos fizeram renunciar a diversos planos e também a comportamentos corriqueiros de uma rotina de deslocamentos e de intenso contato físico.

De repente, de um dia para o outro, entendemos que o acesso ao mundo estaria mais condicionado e viável através do meio digital. As revoluções, tanto de mercado de trabalho e mercado consumidor, já estão em curso há três meses e muitas empresas tiveram de olhar para seus modelos de negócio para que, de forma ágil, pudessem de fato conduzir o processo de adequações de serviços, produtos e principalmente, na cultura organizacional.

Ficou muito clara a ideia de que empresas terão que abandonar a “gambiarra digital”. Ou é digital mesmo ou não é. Plataformas digitais competentes, mesmo que pequenas, irão sobreviver. De acordo com uma pesquisa do Instituto Locomotiva, divulgada em matéria do Valor Econômico, a transformação digital foi acelerada com a crise do Covid-19; que acarretou uma grande mudança de comportamento do consumidor. Os resultados mostram maior adesão aos aplicativos, mais comparação de preços e controle de gastos. A compra pela internet via aplicativos cresceu mais de 30%, puxada pelo ingresso da população com mais de 60 anos e das classes C, D e E no consumo online.

Um dos mercados que mais sofreu impacto é sem dúvida o varejo. No passado o segmento já havia acatado a necessidade das lojas físicas serem redesenhadas como espaços de experimentação da marca, pontos de coleta de informação e interação pontual com o consumidor para geração de dados e inteligência de mercado; mas agora o comércio online deixou de ser uma opção secundária de compras. As vendas migraram mais rápido para o online do que se imaginava antes. É a prevalência da estratégia “figital” (ambiente físico somado ao ambiente digital) que combina muito bem as fortalezas dos dois ambientes para uma melhor experiência de consumo.

As operações e comércio terão que se adaptar rapidamente à economia contact-free, o mercado de saúde é um bom exemplo de rápida adaptação. No varejo, quem já estava adaptado para vendas on-line ou logística de entrega domiciliar sofreu menor impacto comparado a quem não estava nem pensando nisso. Ou seja, não existe setor da economia ou tamanho de negócio que possa dizer “eu não tenho necessidade de investir no digital”. No entanto, para uma empresa ser digital é preciso mais que isso. Segundo John Rethans, VP de transformação digital do Google:

“…é preciso criar uma estratégia que permita às empresas se conectarem com as novas demandas dos consumidores e serem verdadeiramente digitais, saindo do modelo de linhas de produção e indo para o modelo de plataforma; construindo um modelo de gestão em que os funcionários conversem entre si e a inovação possa ser uma soma do trabalho de várias áreas”.

Toda transformação exige mudanças. Mudanças não são facilmente aceitas por uma estrutura acostumada em seu status quo. Portanto, é natural que muitas companhias, após serem forçadas a agir diferente em um contexto pandêmico, busquem voltar ao conforto do que era antes. Assim, será necessário esforço intencional para reestruturar seus modelos organizacionais e operacionais, trabalhando em aspectos de cultura, que se dá através do aprendizado e aplicação sistêmica de novos modelos de trabalho, mais colaborativos, transdisciplinares, autônomos e orientados à análise de dados (quantitativos ou qualitativos), para além de um lab ou hub de inovação.

Agora, uma vez que a tecnologia está sendo comoditizada e estratégia de marketing, vendas e finanças são amplamente difundidas, a pergunta que fica é: de onde deve vir a inovação que vai me diferenciar no mercado? Façamos o seguinte exercício mental. Imaginemos duas empresas com as mesmas características tecnológicas, mesma estratégia financeira, de vendas e marketing, o que dará vantagem competitiva de uma sobre a outra? A resposta está na capacidade e rapidez de entender as dimensões do comportamento do mercado e das relações humanas (análise de dados e pesquisa qualitativa), através de modelos de trabalhos mais ágeis (service design, lean agile, ux agile) com equipes de trabalho transdisciplinares e gerar soluções com alto grau de satisfação pelo próprio mercado.


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*Hilton Menezes é fundador e CEO da Kyvo, uma plataforma global de inovação que deseja criar um futuro mais ágil, criativo e inovador para empresas. Possui mais de 20 anos de experiência em Tecnologia da Informação e Negócios Digitais. Trabalha a inovação desde a cultura organizacional até a tecnologia, executando programas de Transformação Digital, Intraempreendedorismo e Inovação Aberta em parceria com centros de inovação do Vale do Silício, Israel, Londres, Espanha e Portugal.