Um movimento tão aguardado por quem atua em inovação e empreendedorismo finalmente está ganhando corpo. Nos últimos meses, a crescente atuação de empresas e novos negócios têm se desenvolvido com grande potencial nos pólos de inovação do Norte e – com ainda mais força – no Nordeste. Que os ecossistemas de inovação brasileiros têm ganhado destaque no cenário internacional não é novidade. Mas finalmente é possível ver um quadro mais concreto sobre o desenvolvimento da inovação local/regional, além de uma quebra relevante na premissa de que só deslocando profissionais e as ideias para o mercado do Sul e Sudeste é que os novos negócios vingam.
Não é de agora que se nota um nível cada vez mais maduro de empresas que estão fora do eixo Rio-São Paulo. Recentemente, matéria da Gazeta do Povo fez um retrato sobre o potencial das empresas que estão nascendo nos estados do Nordeste. A reportagem trouxe dados do mapeamento mais recente da Associação Brasileira de Startups (AbStartups) de que existem hoje 1.171 startups no Nordeste. A grande maioria delas está concentrada nos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará. Em relação ao perfil, destacam-se as empresas com soluções em educação, saúde e desenvolvimento de software.
Ano passado, a revista The Funnel também fez um raio-x dos principais polos da região Nordeste e deu destaque até mesmo aos Estados que até então estiveram à margem da rota da inovação, para além dos consolidados pólos de Salvador ou o Porto Digital, em Pernambuco. Exemplos como o Extremotec, na Paraíba, e o Jerimum Valley, no Rio Grande do Norte têm se mostrado estratégicos sobretudo pela qualidade da formação de mão de obra e são evidências da intensa atividade de empresas e governos locais para o desenvolvimento de uma economia mais atrelada ao conceito de ecossistemas de inovação.
O próprio conceito de ecossistema de inovação atinge mais um nível de maturidade quando se dissipa cada vez mais a transformação de pensamento de que Norte e Nordeste não são somente o tempero exótico deslocado e adicionado em projetos Brasil afora – e, geralmente, transferidos e investidos no eixo Sul-Sudeste. A cultura e a inovação destas regiões já é pensada, desenvolvida e aplicada também para o incremento do ecossistema e geração de negócios ali mesmo, abastecendo e impulsionando inovação nas capitais e cidades que compõem esses pólos.
Articulação de comunidades e conexões
Funcionando como importantes agentes de articulação e propulsores da inovação nestes pólos, estão os Hubs e comunidades que conectam empresas, governo e empreendedores. Manaus, por exemplo, para além da forte ação governamental criada com a zona franca, tem visto a expansão de seu ecossistema em eletrônica e outras tecnologias. Um dos espaços que promovem o desenvolvimento e o crescimento de startups na Amazônia é o Manaus Tech Hub, iniciativa do Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia. A maior região em extensão territorial do Brasil, a região norte tem desenvolvido muito seu ecossistema nos últimos anos. Segundo levantamento recente da AbStartups são atualmente 229 startups mapeadas na região e elas representam 2,5% das startups no país.
Natural de Belém do Pará, eu sempre vislumbrei a possibilidade de estimular conexões interestaduais e internacionalmente para construir e fazer parte de um ecossistema amplo e diversificado. A inovação só acontece quando tem gente, cultura, referência e vivências diversas para pensar sobre soluções a partir de diferentes pontos de vista. Desde sempre conduzo a Kyvo em parceria com sócios e profissionais das mais diferentes origens e tenho colaboradores e parceiros em diferentes localidades do Brasil e do mundo. Estando à frente de uma empresa de inovação que sempre atuou também fora do eixo sudeste-sul, mantive acionado o exercício de tocar projetos em diferentes regiões do Brasil e ativar parcerias e conexões com representantes dos pólos de inovação locais, regionais e nacionais.
Tenho investido bastante energia e sou um entusiasta de projetos multi regionais; sejam estes aplicados de forma pessoal ou por meio da Kyvo. Dentre os cases, desde inovação aberta, programas de intraempreendedorismo e consultoria de transformação organizacional, para citar alguns: Grupo Simões (mentoria da executiva para desencadear projetos de projeção nacional), Banco da Amazônia, BanPará, Hapvida e consultoria para montar o curso de MBA em Gestão Internacional em Tecnologia e Inovação de cooperação da UFRN com o Technology and Innovation Management Master (EULA-GTEC), e por meio de um projeto de pesquisa financiado pela União Europeia, o H2020 Erasmus+.
Inovação Corporativa
Desde 2019 venho fortalecendo a estratégia de aproximação com hubs de inovação, entendendo o potencial das conexões que falei mais acima e, em 2020, mais intensamente vieram as conexões com o Manaus Tech Hub e Hub Salvador, com o intuito de reforçar a articulação do ecossistema para além do eixo Sul-Sudeste.
Fruto desse intenso contato e vontade de promover um cenário qualificado de possibilidades de negócios e projetos com os mercados do Norte e Nordeste, participei recentemente do evento Inovação Corporativa Norte-Nordeste, promovido pelo Hub Salvador em maio – e pudemos celebrar todo o potencial do ecossistema.
A iniciativa conectou corporações dessas regiões para debater inovação e conexão com startups e hubs de inovação. A Kyvo e a The Funnel são apoiadoras diretas, contribuindo com a curadoria de conteúdo e articulação de keynotes e palestrantes para as conversas e reflexões sobre as características e potencial da região.
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*Hilton Menezes é fundador e CEO da Kyvo. Tem especializações em Negócios, Design e Computação. Atua com o ecossistema empreendedor coordenando programas de transformação organizacional, intraempreendedorismo e inovação aberta. É cofundador da Service Design Network Brazil e do @movimentomoara, dedicado a fomentar a inovação para a sustentabilidade e regenerabilidade na Bacia Amazônica.