Nem todos se lembram, mas em um passado recente alguns dos principais líderes mundiais fizeram da Amazônia seu palanque. Não estou falando de Copa do Mundo, que, aliás, pouco desenvolvimento trouxe para a região, mas sim da discussão sobre a sustentabilidade do planeta. Em Manaus, de 2009 a 2012, nomes como Bill Clinton, Al Gore, Richard Branson, James Cameron, Arnold Schwarzenegger, Fernando Henrique Cardoso, Dominique Villepin, entre vários outros, passaram pela região para debater políticas e alternativas ao modelo vigente de exploração do meio ambiente.
Reafirmaram, de quebra, aquela que é, apesar de não se fazer valer atualmente, a grande vocação da Amazônia: ser o grande palco e celeiro da inovação quando o assunto é sustentabilidade. Infelizmente o protagonismo durou pouco. Obviamente que o custo de trazer tais nomes ao Brasil foi decisivo. Mas, acredito, que também faltou capacidade da comunidade local de transcender os discursos e se valorizar como precursora do tema no mundo. Se não foi isso, então por que a Amazônia deixou a chama da liderança dessa discussão apagar?
Estamos entrando em uma nova fase de inovação global, em que os países desenvolvidos terão pouco a oferecer, e na qual os países BRIC serão os protagonistas: a ONU aponta que a classe média global vai quase triplicar até 2030, sendo que a maioria dela será habitante do Brasil, Rússia, Índia e China. Essa fase de inovação, que já deu mostras suficientes de quão transformadora é para países, empresas e, portanto, a sociedade em geral, tem sua base na revolução digital iniciada com a internet no fim dos anos 2000 e foi multiplicada inúmeras vezes com a popularização dos smartphones e dos serviços online, e com virtualização da economia nesta década. Combinados, os dois fatores têm potencial paratransformar aquele que é o maior tesouro de biodiversidade do planeta.
Desde o ano passado, iniciamos o projeto Moara, em parceria com o governo do Pará e o Sebrae-PA. O intuito é ativar o ecossistema da Amazônia, a partir de Belém, para tornar a região na maior referência global de inovação em sustentabilidade. Isso acontece com a mobilização de organizações voltadas ao empreendedorismo e pesquisa científica, empresas, investidores, órgãos públicos, artistas, formadores de opinião e todos que se interessarem em tornar a Amazônia no melhor local para startups rediscutam a sustentabilidade, o consumo global, as comunidades nativas da floresta.
O pontapé inicial do projeto foi dado em setembro do ano passado, com a realização do primeiro Amazon Launch, fórum de empreendedorismo e inovação focado na região Norte do Brasil. De lá para cá, o projeto ganhou a adesão de empreendedores locais e, mais recentemente, de entidades europeias de apoio à inovação. Ainda há espaço para muitas iniciativas. Neste tema, o tom é de colaboração, não de competição.
Quem sabe, com o engajamento local, conseguimos tornar a Amazônia a grande liderança na discussão sobre sustentabilidade. E assim a vinda de líderes como Clinton e Villepin seja menos por marketing e mais pela causa.
Artigo publicado no portal Startupi.