O conceito de transformação digital é amplo, tal como as oportunidades que a explosão das redes sociais e a massificação dos smartphones geraram nos últimos anos. Por isso, muitas vezes ele acaba passando despercebido do grande público ou, para ser mais específico, dos colaboradores de uma empresa, que são os que mais deveriam estar atentos ao tema. A nossa sorte é que tem muita gente (séria, o que é o mais importante) estudando a fundo o assunto.
Sugiro uma breve reflexão para mostrar o quão envolvidos – ou absorvidos – estamos pela transformação digital. Volte uma década ou duas em sua vida e tente se lembrar como era o planejamento de uma viagem. Sem Airbnb, e-ticket, TripAdvisor, bons sites de comparação de preços de passagens, Uber, Waze, etc… Isso é só o que diz respeito à logística. Tem também o jeito de curtir a viagem. Quem hoje em dia viaja e não posta uma foto no Instagram e Facebook? E que tal ir a um país asiático, o Vietnã, por exemplo, sem se preocupar em como se comunicar com quem não fala inglês graças ao Google Translate? Se você é solteiro, então, um mundo de novas pessoas em busca de novas pessoas via apps de relacionamento se abre na tela do seu smartphone. Pois é, nada disso era feito dessa forma. Sem menosprezar os saudosistas de uma viagem mais artesanal, a verdade é que hoje há uma facilidade enorme para correr o mundo. Porém, enquanto isso acontecia, imagine uma revolução ainda maior era vivida por empresas tradicionais de turismo: a busca desesperada pela sobrevivência.
Diversos outros setores têm passado por grandes mudanças. O transporte de passageiros é completamente diferente após a chegada do Uber e dos aplicativos de táxi. Empresas que chegaram para serem disruptivas e agora enfrentam a ameaça dos apps de caronas, como o Blablacar. Impossível não pensar no chavão de que o feitiço vira contra o feiticeiro. O setor financeiro é outro que tem vivido sob a tensão das novidades criadas pelas Fintechs. Exemplos não faltam.
Não à toa, consultorias e organizações não governamentais têm se debruçado sobre as tendências da transformação digital. Na última edição do World Economic Forum, em Davos, o tema voltou a ser destaque entre os principais executivos do planeta. E uma conclusão chamou a atenção de todos: recursos atrelados à transformação digital podem injetar US$ 100 trilhões (isso mesmo, trilhões) na economia mundial na próxima década. Motivos suficientes para olhar para o tema com mais carinho.
Pois bem, é o que boa parte dos executivos de grandes corporações têm feito. Já tratei aqui do alto interesse de empresas tradicionais por investimentos em startups para alavancar seus objetivos de inovação. Isso não significa, entretanto, que as lideranças de grandes corporações saibam como lidar com a transformação digital, como algumas pesquisas evidenciam. Listo abaixo publicações que trazem exatamente o contraste entre a consciência dos executivos sobre a necessidade de incrementar seus investimentos digitais e a incerteza de qual caminho seguir.
– Segundo o IDC, até o fim de 2017, dois terços das 2000 maiores empresas do mundo terão a transformação digital no centro de suas estratégias corporativas.
– A Accenture indica que 86% dos executivos de alto escalão das empresas esperam competir em novos segmentos de atuação em menos de três anos.
– Pesquisa da Forrester com mais de 400 CEOs revela que apenas 11% das empresas avaliam suas estratégias digitais como excelentes.
– Estudo do MIT mostra que só 50% dos executivos concordam que suas organizações têm uma estratégia digital coerente.
Podemos dizer que o primeiro e mais importante passo já foi dado pela maioria das empresas: saber que é preciso acelerar seus processos de inovação, muitas vezes para áreas distantes de seu core business. O próximo é saber qual é o caminho a ser percorrido. Não é um desafio simples. Nele há fatores como o ritmo de mudanças nas expectativas dos clientes, transformação cultural, regulamentação desatualizada e identificação e acesso às expertises adequadas.
Porém, algumas certezas já surgiram. Entre elas o fato de que, ao invés de lutar contra as startups, é melhor se aliar a elas ou fomentar a inovação entre os membros de sua equipe. É a tal da corrida para não ser uberizado. Outra diz respeito ao consumidor como o principal foco das empresas. Parece algo básico, mas os conceitos de Service Design e CX (experiência do consumidor, na sigla em inglês) são relativamente novos às estruturas empresariais tradicionais. Por fim, a certeza de que vivemos um momento realmente novo e que, se a sua empresa ainda não tem nenhuma iniciativa para ser protagonista neste cenário, já passou da hora de adotar uma.
Artigo publicado no portal Startse.